Fala-barato

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This is not a parrot

domingo, 16 de outubro de 2011

Retóricas idiossincráticas

O governo apresentou o Orçamento de Estado para 2012 e os ânimos exaltaram-se. Mais uma vez, como em todas as outras vezes nos últimos dois anos, o povo português, (mal) representado pelas suas elites, deu provas da sua inquestionável falta de bom senso. Os títulos que anunciavam a nossa calamidade multiplicaram-se logo na manhã seguinte. Os arautos da desgraça atiraram farpas ao governo e vaticinaram, mais uma vez, a queda em desgraça do nosso pobre país que há muito se arrasta pelas ruas da amargura e do desespero. Uma realidade cuja certeza nem ao leitor mais desatento escapará. Todavia, o massacre perpetrado pelas sucessivas manchetes sensacionalistas têm apenas um efeito – deprimir de forma mais intensa um povo que há muito se encontra deprimido com o estado a que o Estado chegou.
E na imensidão deste vasto mar de incerteza quanto ao futuro para o qual fomos arrastados pela crise financeira em que estamos mergulhados, existe apenas uma questão premente que me apoquenta o espírito – qual será a real finalidade de tudo isto?
As medidas tomadas são lesivas das legítimas expectativas alimentadas ao longo das últimas décadas, e disso não tenho a menor dúvida. As mesmas medidas são igualmente necessárias para que o nosso país tenha um sopro de esperança em erguer-se desta cratera na qual nos encontramos presos. E nesta dicotomia aparente surge uma outra pergunta – enquanto cidadãos, contribuintes e trabalhadores seremos tão egoístas ao ponto de não perceber que mais vale abdicar de parte do nosso rendimento do que ver mais pessoas iguais a nós caírem nas teias cada vez mais densas do desemprego???
Com muita tristeza minha começo a pensar que sim, que existem pessoas egoístas a esse ponto. Pessoas que não percebem que os “outros”, amanhã, podes ser eles próprios.
Muito elevam o tom de voz, pejado de indignação (parece que a palavra e o sentimento estão na moda), para que uma só pergunta se faça ouvir – será que todo este sacrifício valerá a pena? Gostava de ter a resposta para esta simples pergunta, tão carregada de significado e comoção, mas não tenho. A única coisa que sei é que se não tentarmos, se não dermos todos um pouco mais, esta cratera em que nos encontramos corre o real risco de se tornar um buraco negro, e desses é praticamente impossível escapar.
Valerá a pena? Não sei. Mas quero muito acreditar que valerá a pena tentar.

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