Fala-barato

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sexta-feira, 3 de junho de 2011

O silêncio prudente depois do início da Primavera Árabe e a reorganização do status quo no Médio Oriente. No seu 63º aniversário, a questão é: E agora Eretz Israel?

O silêncio prudente depois do início da Primavera Árabe e a reorganização do status quo no Médio Oriente. No seu 63º aniversário, a questão é: E agora Eretz[1] Israel?



Da última vez que algo semelhante aconteceu no mundo árabe e no médio oriente, Israel sobreviveu e consolidou-se como nação. Com a Crise do Suez de 1956 foi reorganizado o status quo com que se desenvolveram as difíceis relações entre o Estado Judeu e os seus vizinhos. Os EUA cessaram a ajuda à construção da grande Barragem de Assuão no Nilo, pelo facto do Egipto ter encetado um processo de compra de armas à Checoslováquia comunista. À política expansionista da Internacional Comunista liderada pela URSS, contrapunha-se a doutrina de contenção de Truman no mundo maniqueísta da Guerra Fria. Enquanto os primeiros tentavam recrutar influências nas ex-colónias dos impérios, os americanos tentavam conter a ameaça comunista. Os EUA já o tinham feito angariando para a NATO, parceiros como a Turquia e a Grécia em 1952. Nasser era o instrumento perfeito para unir os árabes a uma só voz e numa só nação desde o Magreb ao Mashrek.A oportunidade era única para a URSS expandir a sua influência até ao Sahel, para numa segunda fase apoiar os movimentos independentistas na África subsaariana. Nasser constituía a personificação da centelha revolucionária e recipiente perfeito para protestar e unir o mundo árabe contra as potências “imperialistas” europeias que protegeram as lideranças dessas nações, e que surgiram do desmembramento do Império Otomano pós- II Grande Guerra. Foi também nessa altura que se deu a afirmação de Israel como potência regional.

       "Não podemos ter esse vagabundo (Nasser) metido nas nossas vias de comunicação", disse então o ex-primeiro ministro britânico Winston Churchill, sobre a nacionalização do Canal de Suez. A França também pretendia punir Nasser por apoiar os rebeldes separatistas na Argélia, enquanto Israel queria garantir a circulação das suas mercadorias por mar, pelo Canal de Suez de forma a não ficar dependente apenas do Porto de Eilat no Golfo de Aqba. O pacto mais ou menos secreto entre o Reino Unido, a França e Israel perdeu a contenda, e Nasser foi glorificado e aclamado como herói. Uma força das Nações Unidas ocuparia o Sinai até à Guerra dos Seis Dias em 1967.

        Nessa altura, no pós- II Grande Guerra, floresciam as independências dos impérios coloniais, começadas por Gandhi na Índia. Pode dizer-se que existiam motivações que evoluíam ao encontro de dois paradigmas vigentes: entre o Comunismo Soviético e as Democracias Liberais do mundo ocidental, entre o Capitalismo de Estado e a Economia de Mercado, entre o Mundo Livre dos EUA e seus parceiros, e o Socialismo da URSS imposto e vigiado pelo Pacto de Varsóvia. Hoje, o panorama parece ser bastante diverso, cada actor parece querer seguir o seu próprio caminho de acordo com as suas contingências e características próprias. Enquanto esse movimento se desenvolveu em torno de grandes personalidades como Nasser, numa onda transnacional, hoje não se procura para já, um grande líder que os una. Muitos observadores consideram que essa miragem de um mundo árabe democrático está ainda muito longe de ser alcançada. No entanto, antes da 3ª vaga da Democracia, que começou em Portugal em 1974, também se afirmava que os países católicos da Península Ibérica, da América Central e do Sul, nunca conseguiriam adoptar o modelo democrático ocidental. Enquanto há quase seis décadas esse movimento de revolta visava unir um povo numa grande nação árabe e em torno da figura carismática e autoritária de Nasser, hoje os receios são outros. Esta onda pode congregar desejos de união, não de um povo, mas de um credo. O receio do mundo ocidental bem como o de outros actores como Israel, é que esse mundo árabe em convulsão adopte os paradigmas de governação disponíveis. O temor que se transformem em teocracias islâmicas, adoptando como modelo, o semeado pelo Ayatollah Ruhollah Khomeini em 1979 e radicalizado pelo actual líder do Irão Mahmoud Ahmadinejad.

O receio da “iranização” do mundo árabe e o seu alastramento pelo Islão

       Neste momento revolucionário tão especial que atravessa o mundo árabe, os defensores da desejada Democracia, dos Direitos Humanos, do “rule of law” e da Economia de Mercado, temem que estruturas com décadas de organização e presença no terreno como a Irmandade Muçulmana, iniciem uma “iranização” do mundo árabe. A grande diferença para os tempos de Nasser e Ben Gurion, é que o principal suporte desse movimento internacional pode estender-se desde o nosso vizinho Marrocos até locais remotos como Xinjiang na China, ou mesmo à grande nação muçulmana que constitui a Indonésia. Esse movimento pode congregar povos e culturas tão diferentes como magrebinos, árabes, turcomanos, persas, malaios, afegãos, pashtun, e chineses de entre outros. A influência que pode ter o acesso ao nuclear pelo Irão pode subjugar as outras variantes religiosas do Islão e não só, mas todos os movimentos que constituem clivagens no mundo dos países maioritariamente muçulmanos, tolerando apenas os credos que consideram inofensivos. Á semelhança do que tem acontecido às minorias Coptas, Judias, Católicas, Ortodoxas, Bah`ai, Drusos e mesmo à mais numerosa variante islâmica Sunita, elas têm sido perseguidas, ameaçadas e ostracizadas de forma violenta pelos Xiitas. A perseguição religiosa tem sido praticada sistematicamente pelas facções que detêm o poder no mundo islâmico. Na Síria ou no Irão, por exemplo, se um chefe de família judeu sair de um desses países e não regressar no prazo previamente estipulado, toda a sua família é feita refém. Inúmeros exemplos poderiam ser dados, como o caso dos católicos no Iraque ou no Irão, os drusos no Líbano e na Síria, ou os coptas no Egipto.

       A abertura da fronteira de Gaza com o Egipto, após Mubarak ser deposto, e a ausência de controlo efectivo de pessoas e bens nas regiões em convulsão, tem constituído uma das maiores ameaças à segurança de Israel e da ordem internacional no médio oriente. Os fluxos em massa de refugiados que transitam por estas regiões, ameaça e desequilibra não só a capacidade de resposta das estruturas locais existentes, bem como as dos seus vizinhos, sendo um dos destinos mais procurados a Europa. É nesta anarquia generalizada que se movem estruturas organizadas e financiadas pelo eixo Irão-Síria, que detém um conhecimento e uma rede de ligações organizada, experiente, influente e hierarquizada como sejam a Irmandade Muçulmana, o Hamas ou o Hizzballah. Por outro lado, a condenação pelos movimentos radicais islâmicos da morte de Bin Laden demonstra que existe uma forte identificação entre estes e a organização terrorista Al – Qaeda.

Israel, que no seu território congrega cidadãos de todos os credos, vai ter de se desdobrar em múltiplas tarefas. Manter a coesão interna, vigiar fortemente as suas fronteiras e reorganizar caso a caso a sua política externa, sem perder de vista a ameaça que constitui o eixo Irão-Síria, são as prioridades. Israel afirma estar preparado, tanto para uma terceira intifada que muitos previram que começasse no Nakba Day (“15 Maio Dia da Catástrofe”) para os palestinianos, bem como para um ataque nuclear de Teerão. E agora, Israel?



[1] Eretz Yisrael
(Heb. The land of Israel) A maximalist term used by some right-wingers to refer to the borders of the ancient kingdom of Israel which includes all of the West Bank and parts of Jordan in http://www.jewishvirtuallibrary.org/jsource/glossE.html

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